Donald que não é o pato.
O universo está em constante mudança, disso já todos nós sabemos. Desde as minhas aulas de ciências naturais, há vinte anos atrás, há menos um planeta no sistema solar e a Antártida insiste em derreter.
Sou do tempo em que o Michael Jackson e a Madre Teresa de Calcutá eram vivos. Assisti em direto na TV ao embate do segundo avião nas torres gémeas. Comprei pastilhas por 5 escudos e maços de tabaco por 3,50 euros. Assisti à morte da disquete e ao nascimento dos tablets e smartphones.
São estas as frases que terei de dizer ao meu filho daqui a alguns anos, quando ele me começar a fazer perguntas sobre o Mundo.
Por essa razão, desde sexta-feira passada tento elaborar um discurso (coerente) sobre a eleição de Donald (que não é o pato) para presidente de umas das maiores potências mundiais, mas está a ser uma tarefa muito difícil.
Como irei explicar a uma criança a importância da queda do muro de Berlim quando o Donald (que não é o pato) vai erguer um novo muro? Como conseguirei eu explicar, cronologicamente, a existência de um Obama antes de Donald (que não é o pato), eleito pelo mesmo povo? Como conseguirei explicar que, apesar da sua imensa fortuna, o Donald (que não é o pato) decidiu utilizar uma espiga de milho como capachinho? Como irei explicar a um ser humano ainda em "construção" que a rudez e o sensacionalismo não são virtudes, mesmo que ainda assim, consiga alcançar objetivos como ganhar as eleições? Como explicarei ao meu filho homem que as mulheres não são objetos, apesar da bela jarra azul (completamente ornamental) que está ao lado do Donald (que não é o pato) na sua tomada de posse?
Como irei explicar ao meu filho que há guerras a acontecer no mundo porque os vários Donalds (e nenhum deles o da Disney) gerem países da mesma forma que jogam à batalha naval nos seus smartphones enquanto estão sentados nas suas sanitas nos gloriosos quinze minutos matinais?
Que as armas são para este Donald (que não é o pato) um brinquedo que se pode vender em supermercados, mas que a verdadeira bruxa má é Meryl Streep por ter feito um discurso contra o Donald (que não é o pato).
Tudo isto me parece extremamente complexo de explicar a uma criança, quando na realidade parece um conto infantilóide em que há um Donald que fica sozinho em casa e pode fazer tudo o que lhe apetece sem a presença de adultos. Quem já viu este filme?
O problema é que iremos ter todos de assistir à saga inteira de Sozinho em Casa, e "rezar" para que o Donald (que não é o pato) não se lembre de provocar um curto circuito que deixe tudo em cinzas.
E quando o meu filho me perguntar como acaba este filme? Terei de lhe responder que infelizmente não sei mas que este Donald não é o pato vestido de marinheiro.